sábado, 2 de abril de 2011

DEPOIS DE TUDO (2011)



Esta é a capa da Revista DEPOIS DE TUDO que foi lançada em maio de 2011.
 

capa da THE POIS DE TUDO (1991)


Este foi o FANZINE feito por Cláudia Gomes, Alexandre Augusto,Renata Silveira e eu.


EM BUSCA DE UM SOL

Entre passos vagarosos, numa marcha lenta, o homem caminha para a tempestade.

- Durante algumas horas choverá pela cidade e aconselhamos a nenhum cidadão sair à rua – disse o locutor da rádio.

Realmente, naquele dia o homem não queria sair. Os seus pés calçados de orgulho e mágoa o fizeram sair. Ele partiu e sentiu as gotas de chuva como um chorar incessante escorrendo por seu insípido ego. Será que alguém em toda a cidade havia pensado como ele? De repente ele percebeu vários egos na chuva. O homem sorriu. Sorriu e encontrou no seu sorriso a fonte de esperança para achar o abstrato de um ser inconstante.

O homem tentava descobrir-se naquela tempestade, onde as nuvens densas escureciam a cidade que estava entregue as trevas. Não havia mais luz, somente idiotas segurando velas nas suas casas e vagando de um lado para o outro. Existem também loucos nas ruas segurando lanternas. Ele não tinha lanterna. Os outros não o imitariam, pois não bastava molhar-se naquela hora. Bastava sentir o que aquele homem sentia.

- Os lugares luxuosos da cidade estão alagados e houve desabamentos em outras partes. Aconselho novamente para todos ficarem em casa. – insistia o locutor.

Aquele homem não tinha rádio. Nem tampouco televisão. Ele era a antena da sua própria existência entregue ao caos e a descaso. Aquela tempestade parecia atraí-lo, como uma hipnótica embriaguês. Ele vagava para o absurdo e para os bairros luxuosos, onde talvez encontrasse uma saída eficaz para quem procura salvação dos seu próprio mundo. Um mundo obscuro nas mãos da doce e eficiente morte.

A tempestade aumenta. De repente o inesperado. O que ele nunca imaginaria acontecer, acontecia. Ao seu encontro vinha uma mulher, com as feições ocultas por causa da chuva. Pararam na frente um do outro. Se observaram por segundos e se abraçaram por minutos. Os minutos talvez bastassem para se descobrir que ali estava um espelho. Agora era tarde para os dois. A tempestade aumentava junto com a noite e eles estavam nos bairros luxuosos.

Que lastimante aquela situação. Suas lagrimas confundiam-se com a chuva. Como se os dois fossem empurrados, caminhavam juntos. Agora sem rumo. Logo estavam sós numa rua e ali começaram a cantar músicas alegres em tom de despedida. Valsaram com a melodia da chuva. Triste melodia. Recitavam poesias depressivas e bebiam água da chuva como se fosse vinho. Trocaram confidencias e rasgaram suas roupas. Como num aceno fatal e derradeiro, despediram-se da vida se amando desesperadamente ao som de uma tempestade infinita.

- foi encontrado um casal morto, próximo a um dos bairros luxuosos. A pericia deduz que foram arrastados nus pelas correntezas das águas da tempestade. – finaliza o locutor.

E então com os seus corpos desconhecidos e nus, enterraram-se seus sonhos e suas fantasias. Justamente num dia de sol, o dia seguinte, morreram sem vê-lo.

21-06-1992.

TENTATIVA CONSCIENTE DE EVOLUÇÃO

O que é futuro?
De onde vem o futuro?
Para onde foi o passado?

Hoje eu errei, mesclei passado e futuro.
Foi uma descoberta agonizante.
Descobri que eu não tinha nada
No meu passado e no meu futuro.

Então quem sou?
De onde vim? Para onde vou?
Pode existir algo que nunca existiu?
Se tudo vem de dentro.
Dentro está o vazio.
Eu me encontro aí, no vazio.

O vazio é a fonte das minhas dúvidas.
Dúvidas banais como o meu passado.

O passado não se repete.
O passado talvez seja inócuo e vulgar.

Eu não existo...
Não se definem coisas que nunca existiram.

O passado já morreu
O futuro não sei se virá.
Se vier, quanto tempo perdi julgando o meu passado.
Nós nunca fomos o que julgamos ser.
Foi assim, assim será,
Perpetuando-se por toda a eternidade.

30-04-1992